Através de uma montagem de poemas e frases publicitárias do autor, o colectivo “Haja Ânimo” procura desvendar a plena atualidade da obra de Alexandre O’Neil, poeta que nos anos 60 desafiou a censura com poemas e textos que podiam ter sido escritos hoje. Temas atuais como o medo, a solidão, a fome, mas também a amizade e o amor fazem parte do guião do espectáculo.
Os 20 intérpretes que dão voz e corpo no palco do auditório da Biblioteca Municipal à “Engrenagem do Medo” farão a leitura encenada de textos de O´Neill, pontuados quase todos por uma ironia cáustica que nos remetem para o Portugal de hoje – “Ah Portugal, se fosses só três sílabas e de plástico que era mais barato…..”
“Engrenagem do Medo” é uma criação do colectivo “Haja Ânimo” com a coordenação do jornalista e animador cultural Alberto Serra.
Informação adicional:
Alexandre Manuel Vahia de Castro O’neill de Bulhões nasceu em Lisboa em 19.12.1924 e faleceu, na mesma localidade, em 21.08.1986. Autodidata, dedicou-se à atividade publicitária. Nos últimos anos da década de 40, interveio nas primeiras manifestações do surrealismo, publicando “A Ampola Miraculosa” (1948), integrado na coleção dos “Cadernos Surrealistas”. Segundo F.G. (Dicionário de Literatura Portuguesa, 1996), embora afastado do surrealismo, a sua poesia “soube aliar caraterísticas próprias da poesia surrealista a uma visão e a uma sensibilidade muito pessoais, marcadas por uma certa violência expressiva, pela exploração do insólito ou do sem-sentido, pela confrontação com uma “consciência infeliz do mundo” para se libertar da sua “presença dolorosa, cínica ou inquietante”. Ou até, como refere, por um “formalismo que o leva, num ou noutro poema, a soluções de evidente mau gosto”. Segundo o referido autor, isto condiz com a maneira como o “poeta sabe, com a maior lucidez, explorar certos jogos paródicos, o próprio Kitsch ou os típicos “inventários” surrealistas, onde o seu humor se faz sentir imaginosamente”.
Outro aspecto a considerar na sua obra, diz respeito à forma como nela se concilia uma atitude de vanguarda, com a atenção prestada à tradição, nomeadamente de raiz arcádica.
Segundo aquele autor, um dos traços mais originais da poesia de Alexandre O’neill é o “espírito de contestação ou sentido de ironia e sarcasmo – logo apaziguado, em certos momentos, por um tom discretamente sentimental, lírico”, não se coibindo de “atingir conscientemente os limites da antipoesia”.
Publicou os seguintes livros: No Reino da Dinamarca (1958), Abandono Vigiado (1960), Poemas Com Endereço (1962), Feira Cabisbaixa (1965), De Ombro na Ombreira (1969), As Andorinhas não Têm Restaurante (prosa narrativa-1970), Entre a Cortina e a Vidraça (1972), A Saca de Orelhas (1979), Uma Coisa em forma de assim (prosa narrativa-1980) e As Horas já de Números Vestidas (1981).