A Câmara Municipal de Barcelos lamenta a morte de Mário Soares e partilha a dor e a consternação que a perda da referência maior da nossa democracia provoca em todos os portugueses.
Mário Soares foi o grande obreiro do Portugal democrático e europeu e a luta que empreendeu por essa grande obra é inigualável.
A sua personalidade deixou marcas profundas em todos nós: com Mário Soares aprendemos os valores da tolerância e do respeito pela diversidade e, sobretudo, o valor da liberdade.
Mário Soares foi lutador dos direitos dos cidadãos e quando essa luta lhe valeu a perseguição, a prisão e o exílio, durante o Estado Novo, as suas convicções não esmoreceram, antes redobraram no seu esforço da luta pela liberdade, o grande farol da sua intensa vida política.
Mário Soares defendeu os presos políticos, bateu-se contra a política repressiva de Salazar intervindo ativamente na criação de movimentos de oposição ao regime, como a fundação do Partido Socialista Português.
Depois do 25 de Abril de 1974 não perdeu de vista o farol que sempre orientou a sua ação política e cívica e continuou a lutar pela liberdade e pela democracia pluralista.
Opôs-se a qualquer projeto político totalitário e isso valeu-lhe o apoio da grande maioria do povo português, que sempre lhe reconheceu esse mérito.
O seu pensamento visionário, próprio de um homem livre, expressou-se, também, no projeto de desenvolvimento económico e social para Portugal, lutando pela integração europeia e pela importância do modelo democrático português no mundo. Como Primeiro Ministro, definiu o modelo político e económico do país, o que levou à adesão plena à Comunidade Económica Europeia, um ato lhe fica associado e que expressa o novo papel de Portugal na Europa e no mundo. Como Presidente da República inaugurou um novo estilo, consistente com a sua personalidade e com a realidade do país, levando a Presidência de encontro às populações e à realidade do país.
Por isso, devemos a Mário Soares não só o nascimento de um país moderno, mas também o reencontro de Portugal com o mundo e com a civilização.
Na construção deste país moderno, cujas bases lançou ainda antes da Revolução do 25 de Abril de 1974, Mário Soares sempre defendeu a autonomia do poder local como fator decisivo de coesão social, económica e política, afirmando-se como um dos pilares fundamentais da consolidação da democracia.
Na verdade, a instituição de um poder local democraticamente eleito e dotado de competências capazes de resolver os problemas das populações, constitui não apenas uma sequência natural do processo de democratização e desenvolvimento de Portugal trazido pela Revolução de Abril, mas também o reconhecimento da importância de um poder de proximidade e da coesão das comunidades locais.
Devemos a Mário Soares a luta por tudo o que nos deixou, mas também lhe devemos a obrigação de continuar o seu legado.
E a melhor forma de o fazer é manter o esforço de aprofundamento da democracia, tendo sempre como farol o valor supremo da liberdade.
Neste momento particularmente difícil, a Câmara Municipal de Barcelos manifesta à família e amigos de Mário Soares, ao Partido Socialista e a todos os democratas o seu mais profundo pesar e consternação, dirigindo a todos eles a sua total solidariedade.