Comemoram-se, no presente ano, cem anos de energia elétrica em Barcelos. Na verdade, na noite de 13 de novembro de 1917, uma terça-feira, foi inaugurada a luz elétrica em Barcelos. Cerca de um ano mais tarde, em 27 de abril de 1918, a então vila de Barcelos ficou completamente iluminada. Nos finais de julho de 1916, chegou à Furada – Penida – o cabo elétrico para conduzir a energia para a iluminação pública e particular de Barcelos.
A luz elétrica veio substituir os 177 lampiões de petróleo existentes (que custavam 30 reis por noite), que iluminavam Barcelos só nas noites em que não houvesse luar, sendo João Francisco da Silva, da freguesia de Alvelos, o último lampinista.
A luz elétrica de instalação subterrânea foi inaugurada em 1 de maio de 1938.
O fornecimento da luz elétrica em Barcelos foi adjudicado, em sessão de câmara de 13 de janeiro de 1916, presidida pelo Dr. José Matos Graça, à firma F. Xavier Esteves & Borges, da cidade do Porto. A energia elétrica era produzida na estação hidroelétrica situada no rio Cávado, no lugar da Penida, freguesia de Areias de Vilar, do concelho de Barcelos, (e pertencente à Sociedade de Eletricidade do Norte de Portugal, de que Francisco Xavier Esteves e Francisco António Borges eram diretores).
Na altura era presidente da Comissão Executiva Municipal, o Dr. José Júlio Vieira Ramos, um monárquico, advogado e notário, antigo líder local do Partido Progressista que governou em pleno período republicano.
Foi deste modo que o semanário “O Barcelense”, na edição de 17.11.1917, registou este notável acontecimento:
“Na terça-feira à noite procedeu-se à experiência da luz eléctrica na zona que abrange a rua D. António Barroso, Campo da República, Campo de S. José, Rua Nova de S. José, Barjona de Freitas, Calçada, Faria Barbosa, rua da Palha, rua da Barreta, rua Miguel Bombarda, rua Duque de Barcelos e Largo José Novais.
As ruas e largos coalharam-se, rapidamente, de gente de todas as classes, parecendo que nos encontrávamos não em Barcelos mas numa cidade de luxo e muito movimentada.
É indiscritível o contentamento e entusiasmo que se notava em toda a gente, sendo todos pródigos em elogiar a esplendorosa luz, que melhor não se poderia exigir.
Felicitamos a ex.mª Câmara e os concessionários pelo esplêndido êxito conseguido com este importantíssimo melhoramento, que a todos os barcelenses aproveita e que a todos deve satisfazer e agradar.
A diferença desta bela e poderosa luz da da antiga iluminação a petróleo é tanta como a que existe entre o escuro dum borrão de tinta e a alvura impressionante dos arminhos.
Barcelos progride e nós experimentamos um frémito de entusiasmo que chega a ponto de nos enchermos de orgulho, vaidosos por vermos que esta linda vila se vai engrandecendo, modernizando-se a par das povoações mais importantes do país.”
(…)
“Não devemos deixar sem reparo o quanto são elogiáveis os serviços dos empregados às ordens dos concessionários que têm provado evidentemente os seus grandes méritos e aptidões para a missão que tão briosamente desempenharam.
Brademos pois: Viva Barcelos! Viva quem trabalha pelo engrandecimento desta terra!”.
A Delegação de Barcelos da “Sociedade da Eletricidade” situava-se no Campo da República, sendo seu diretor o Tenente António Acácio Nunes. Da Secção Técnica, faziam parte o eletricista Gonçalves, o chefe das redes António Ferro e outros auxiliares.
Ainda segundo o referido semanário, na edição de 09.03.1929, numa informação assinada pelo seu responsável, José de Mancelos Sampaio, o processo de remodelação da “Sociedade” prosseguia:
“Na passada 2ª feira, 25 do corrente, ficou instalado na cabine nº 8 (Torres) um novo transformador Poege de 50 Kw; e assim todas as três cabines da cidade alta já têm a mesma potência num total de 150 Kw.
Para a cidade baixa (Barcelinhos) passa o transformador de 30 Kw, que estava nas Torres; a potência de transformação em toda a cidade sobe portanto a 180 Kw, o que é importante para a população de Barcelos.
Na rede pública continuarão, persistentemente, as modificações estando por agora em conclusão a melhoria da rede de Barcelinhos.
Na central da Penide e nas aldeias deve em breve – Março ou Abril – iniciar-se outra etapa de trabalhos.”
À Sociedade de Eletricidade do Norte de Portugal (SENP) sucedeu-lhe a Companhia Hidro-Elétrica do Norte de Portugal (CHENOP) que praticamente no mesmo local da Furada-Penida, construiria, em 1951, uma barragem. Sob a orientação dos técnicos Francisco Alves Correia Paiva e Bártolo de Oliveira Correia Paiva, seu filho, procedeu-se à eletrificação do concelho de Barcelos.
Um dos presidentes da Câmara Municipal que mais contribuiu para que o nosso concelho fosse dotado de energia elétrica foi o Dr. Luís Novais Machado (1917-1978), que governou os destinos municipais de 20.05.1953 a 06.01.1960, tendo mandado eletrificar 64 freguesias e que ficou conhecido, por isso, como o “presidente das luzes”.
A Câmara Municipal de Barcelos vai comemorar cem anos de energia elétrica em Barcelos com uma conferência a realizar no dia 9 de dezembro, pelas 17h00, no auditório da Biblioteca Municipal. Será orador o Prof. Doutor João Figueira, doutorado em “Estruturas Sociais da Economia e História Económica”, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, mestre em História Económica e Social Contemporânea, e licenciado em História da Arte, pela Faculdade de Letras da mesma universidade.
Seguir-se-á a inauguração de uma exposição iconográfica e documental sobre o mesmo tema que, depois de exibida na Biblioteca Municipal, percorrerá os estabelecimentos de ensino concelhio.
João Figueira é natural de Arganil. Desenvolve trabalhos de investigação, desde há duas décadas, na área da história do sector elétrico, tendo estudos como: O Estado na eletrificação portuguesa: Da Lei de Eletrificação do País à EDP (1945-1976), Tese de Doutoramento, apresentada em 2012; “A eletrificação da rede: as grandes opções”, in O Caminho-de-Ferro em Portugal 1910 – 2010, editada pela CP – Comboios de Portugal / REFER – Rede Ferroviária Nacional, em 2010; “A Empresa Hidro-Eléctrica de Arganil (1927-1978) e a eletrificação dos concelhos de Arganil, Tábua e Oliveira do Hospital”, Tese de Mestrado, editada pela EDP, em 2004; ou “A eletrificação do centro de Portugal no século XX” (em coautoria), publicado pela EDP, em 2001.
Presentemente está a ultimar a obra “Uma história da eletricidade em Portugal”, a editar pelos CTT, no decorrer de 2018, entre outros projetos nesta área de estudo.