Este romance publicado em 1968 é, geralmente, considerado a obra-prima de Cardoso Pires. A “Gafeira”, aldeia inexistente, simboliza o Portugal marcelista, com um crime no centro da história.
Tendo sido recebido, até 1974, como romance neo-realista, tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista. Pode efetivamente ser lido como o primeiro romance português no qual confluem as principais linguagens estéticas norteadoras do futuro pós-modernismo português devido à mistura de géneros, à polifonia, à fragmentação narrativa e à metaficção.
Entretanto, no dia 16 de março, também às 16 horas, na Biblioteca Municipal, será exibido o filme com o mesmo título do realizador Fernando Lopes, com argumento de Vasco Pulido Valente.
Ambas as sessões têm entrada livre.
O romance
Narrativa de um crime, a morte misteriosa da esposa de um importante latifundiário, onde o amor é o móbil, desencadeia-se de forma irracional, enredando-nos no enigma. Este incidente criminal é o ponto de partida para um romance que acumula várias versões sobre uma mesma realidade.
É uma forte reflexão sobre os temas da morte e do amor, um extraordinário exercício de estilo embebido na nostalgia do passado : “Antigamente, em tempos mais felizes…”.
Numa apresentação de variadas certezas (apontamentos do narrador, relatos de testemunhas, boatos, lendas, anedotas, mitos, registos monográficos), “O Delfim” foca a relação entre a escrita e a realidade ao relatar uma história que, ao mesmo tempo, não está presente, que se oculta ou se revela.
O filme
Adaptação do romance “O Delfim”, com argumento de Vasco Pulido Valente, dá-nos um retrato do Portugal dos anos 60, do fim do salazarismo e do auge da guerra colonial.
Tomás Palma Bravo, o “Delfim”, o “Infante”, é o herdeiro de um mundo em decomposição. É ele o dono da lagoa, da gafeira, de Maria das Mercês, sua mulher infecunda, de Domingos, seu criado preto e maneta, de um mastim e de um “jaguar E” que o leva da gafeira a Lisboa e às prostitutas.
Um caçador, detetive e narrador, que todos os anos volta à lagoa para caçar patos reais. Descobre, um ano depois, que Domingos apareceu morto na cama do casal Palma Bravo e que Maria das Mercês apareceu a boiar na lagoa.
Quanto a Tomás Palma Bravo e ao mastim, dizem-lhe que desapareceram, sem deixar rasto, e que da neblina da lagoa se ouvem agora misteriosos latidos.