O percurso, com uma extensão de 15 quilómetros, contou com a participação de cinco dezenas de pessoas que trilharam o caminho que a tradição refere ter sido percorrido pela Rainha Santa Isabel, no ano de 1325, em peregrinação a Santiago de Compostela, onde terá chegado a 25 de julho (dia consagrado a Santiago).
A edição deste ano do programa “Caminhar para Conhecer Barcelos”, conta já com cinco etapas, 450 participantes, mais de 70 quilómetros percorridos, cerca de três dezenas de freguesias percorridas e um vastíssimo conjunto de pontos de interesse visitados.
O programa é um dos mais dinâmicos e conceituados na região do Porto e Norte ao nível da fruição ambiental, natural, rural, arqueológica e monumental, potenciando de forma organizada o conhecimento, interpretação e fruição de argumentos e recursos de interesse que se localizam fora dos circuitos turísticos mais conhecidos.Este é um programa de exploração e valorização direta do território, dos seus agentes e de divulgação do trabalho da comunidade, em prol de inúmeros recursos de relevante interesse turístico. É, também, um complemento à oferta existente e de atração a Barcelos.
A próxima etapa do programa Caminhar para Conhecer Barcelos realiza-se no dia 6 de setembro, com um percurso de Interpretação da paisagem vínicas entre Rio Covo Santa Eulália e Remelhe, pelo Monte de Maio.
No percurso da Rainha
Existem inúmeras referências de peregrinações no território que corresponde ao atual concelho de Barcelos, como são bom exemplo a da Rainha Santa Isabel, no século XIV, ou a do Bispo de Jerusalém, retratado pelo sacerdote Giovanni Batista Confalonieri, em 1594, entre muitas outras que durante séculos trilharam este caminho de identidade, historia e tradição jacobeia que é o território do concelho de Barcelos.
O troço desta etapa realizada no dia 12 de julho foi efetuado por pessoas oriundas de varias localidades do Norte de Portugal, entre as quais Barcelos, Vila do Conde, Povoa de Varzim, Maia e Vila Nova de Famalicão, teve inicio às 9h00 na Igreja Românica de Abade de Neiva (do século XII), ponto principal da variante ao Caminho Central recentemente ratificado pela Câmara de Barcelos.
Depois de visitado este espaço e revisitado o seu contexto jacobeo, os caminhantes iniciaram o percurso de dificuldade alta, passando pela freguesia de Tamel Stª Leocádia. Em seguida iniciaram a subida ao planalto de S. Gonçalo, de onde puderam observar o vale do Cávado, as serranias do Gerês, os montes de S. Mamede, Franqueira, Facho, Airó e a imensidão do Atlântico que domina a vista a poente.
Algumas centenas de metros mais adiante, está a capela de S. Gonçalo, de onde se avista toda a orla costeira, de Viana do Castelo até Povoa de Varzim; a norte, a Basílica de Santa Luzia e a Senhora Minho a anunciar as terras do Alto Minho e a Ribeira Lima.
A atual capela de S. Gonçalo resulta da recuperação de uma estrutura mais antiga (talvez de matriz medieval) que ali existia, mas que se degradou com o abandono deste caminho pelos peregrinos e o aparecimento de novas vias de ligação de Barcelos a Viana do Castelo.
Descemos depois para a capela de S.João, por entre fragas e declives, cenário que ao tempo motivou a pergunta da Rainha, segundo a lenda retratada por Frei Agostinho Fragoso: “Como se chama esta terra?”, “Valverde!”, responderam os súbditos. “Valverde!”, murmurou a rainha. “Eu só vejo fragas e rochedos, e por isso Fragoso lhe chamo eu”, ficando esse nome até aos nossos dias.
Passa-se, depois, à ribeira e ao caminho de acesso à ermida de S.Vicente e à capela de S.João. Antes, ainda se passa pela fonte da Virtude, onde a rainha Santa Isabel matou a sede ao seu filho D. Afonso. Um local mítico e simbólico que recolheu a simpatia dos caminhantes. Reza a lenda que o filho da rainha lhe pediu água, mas naquela época do ano a ribeira estaria seca. Então, a rainha bateu com um bastão numa rocha e dela fez brotar água para satisfazer a sede do seu filho de apenas 12 anos. A água que brota desta fonte, diz o povo, é milagrosa. Esta fama espalhou-se e acredita-se que esta água permite levedar o pão sem fermento.
Depois os caminhantes percorreram as cascatas e trilhos da ribeira num percurso fresco e verdejante até chegar ao Couto de S. Vicente e junto ao Tanque ou Poço da Rainha Santa Isabel, no largo que dá acesso à Capela S. João e à Ermida de S. Vicente. Este tanque recolhia a água que provinha da Fonte da Virtude juntamente com a água da Ribeira de Mouros. Cheio, o tanque permitia o mergulho abençoado para curar as maleitas, depois de beijar a cruz que ali se encontra também, com cerca de 30 cm por braço. Dizia-se que quem sofresse de alguma enfermidade e com fé mergulhasse na água três vezes e em todas elas beijasse a cruz, ficava curado ou morria dentro de alguns dias.
O tanque original foi destruído por uma tromba de água, em 1939. A estrutura existente foi recentemente reconstruída.
Ali bem perto, uma imagem de D. Afonso Henriques com a inscrição relativa à existência de antiga ermida naquela local e referencia à doação de Couto por parte deste monarca mesmo antes de ser rei, em 1127.
Nas imediações encontra-se a capela de S. João, erigida sobre uma estrutura medieval no século XVII, mas que ainda conserva no seu interior alguns vestígios da estrutura inicial.
Depois deste espaço de frescura e descanso os caminhantes passaram ainda pelas Alminhas de Santa Isabel e seguiram a ribeira e as suas águas límpidas, rumando por entre carvalhos centenários, por um antigo moinho e rumo à Igreja de Fragoso.
Pouco depois o fim do percurso, com a ponte romana de Fragoso e o Neiva que a Rainha percorreu.