O Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Mário Constantino, e a vereadora da Cultura, Elisa Braga, estiveram esta tarde (sexta feira, 29 de outubro) em Tamel S. Pedro Fins para verificar o andamento dos trabalhos da intervenção arqueológica que decorre junto à igreja paroquial daquela freguesia.
Os autarcas, acompanhados por técnicos do Município e da Direção Regional de Cultura do Norte, procuraram inteirar-se da magnitude da intervenção que ali está a ser feita, na sequência do aparecimento de vestígios medievais encontrados, aquando da realização dos terraplenos realizados na parte norte do templo, em finais de junho de 2021, no âmbito da intervenção de requalificação da envolvente à igreja.
Na visita de hoje verificou-se que a intervenção está bastante avançada e já colocou a descoberto um contexto arqueológico quase exclusivamente cemiterial/necrópole, tendo-se identificado, até ao momento sessenta sepulturas. Os trabalhos devem prolongar-se ainda por mais um mês.
Vestígios podem remontar a meados do século VI
Na primeira abordagem realizada pelo Gabinete de Arqueologia municipal ao sítio arqueológico, em articulação com a tutela regional do Património Cultural (DRCNorte), constatou-se a importância e extensão do conjunto; por essa razão, e tratando-se de um sítio de grande sensibilidade social e de difícil conservação, por traduzir os restos do cemitério medieval associado à paróquia, a União de Freguesias de Campo e Tamel São Pedro Fins contratou uma empresa de Arqueologia para se proceder à caracterização e contextualização dos elementos detetados, aferir-se a viabilidade do projeto de reabilitação, e estudar formas de preservação dos vestígios no próprio local.
Com base na tipologia dos enterramentos, e por já serem bem conhecidos casos semelhantes no concelho (exemplos de Mondim, Panque, e de Paradela), não existem dúvidas que se tratam dos vestígios do cemitério mais antigo da localidade, possivelmente contemporâneo da primitiva igreja paroquial de São Pedro Fins (documentada desde os finais do século XI), datando o cemitério, portanto, dos séculos X/XI a XIII; uma das sepulturas, contudo, construída com caixa em tegula (telha de grandes dimensões), parece datar da fase paleocristã, podendo recuar a cronologia dos primeiros enterramentos no local até aos meados do século VI d. C. ou a períodos bem mais antigos, como o final da Romanização.
Para além das sepulturas, foi detetado um canal de drenagem do terreno, de cronologia mais recente, possivelmente do século XVIII ou até XIX, porque esta zona era muito atreita à concentração de água.
Os vestígios encontrados são passíveis de serem salvaguardados sob a forma de um ponto de interpretação arqueológico/patrimonial a criar no local, articulando os elementos arquitetónicos e funerários, e conjugando os dados arqueológicos apurados na intervenção, traduzindo-se a importância das paróquias medievais na origem e fixação do povoamento, e na construção e desenvolvimento da paisagem humana que hoje se conhece no concelho e na região minhota.