O Museu de Olaria do Município de Barcelos está a dar a conhecer a arte dos mestres do barro negro, José Maria e Joaquim Alvelos, numa exposição que vai estar patente na Sala da Capela, até 18 de junho.
Na folha de sala que contextualiza a exposição, diz-se que estes dois homens, nascidos na terra de Viriato, “iniciaram a sua vida profissional ainda em criança – os tempos eram outros – no seio familiar, aprendendo o ofício com seus pais. A mudança dos paradigmas de consumo levou-os a empreender, passando da olaria para o figurado. Ainda que nunca tivessem abandonado na totalidade a primeira, destacaram-se e ficaram conhecidos pela segunda. Algo que os levou a percorrerem o país de lés a lés, sendo presença em inúmeros certames de artesanato. (…) As dobras e torções da Serra de Montemuro, lugar de segredos seculares, guardavam uma antiga comunidade de oleiros que chegou até aos nossos dias. Encravada entre os Rios Douro e Paiva, foi berço de incontáveis mãos que giraram a roda baixa. Nos seus montes, maços e picos de sovar em riste golpeavam a argila encharcada. O chão cravejado de soengas, abertas como entradas de formigueiros, onde fumo e barro se fundiam, resultando num barro negro.
A persistência da memória encerrada nas criações de ambos traz um universo esquecido para a luz dos nossos dias.
A exposição “Mestres do Barro Negro – Joaquim Alvelos e José Maria Rodrigues” dá-nos a conhecer os obras deste dois memoráveis e derradeiros artistas da cerâmica viseense.
José Maria Rodrigues – Mestre Zé Maria
Chamava-se José Maria Rodrigues, mas no mundo da cerâmica ficou conhecido como Mestre Zé Maria. Nascido em Ribolhos, Castro Daire, no ano 1906, desde tenra idade aprendeu os ensinamentos da arte de trabalhar o barro, muito com o seu pai que foi também o seu professor. As tarefas básicas do quotidiano de um oleiro, como extrair a argila, amassar a massa, tornear, e cozer a louça, foram-lhe transmitidas pelo progenitor. Desde os 8 anos de idade que se curvava sobre a mesa do ofício, fazendo de tudo um pouco. Aos 27 era dono de uma oficina, onde se faziam panelas, sertãs, púcaros, etc., para serem vendidas na feira de Castro Daire.
O passar do tempo trouxe o advento do plástico e da banalização do metal, levando ao consequente desuso das peças de barro e diminuição das vendas. Ao mesmo tempo, a desertificação do interior precipitada pela guerra e a procura de melhores condições de vida afastaram os clientes para outras paragens. Esta situação levou Zé Maria para a criação artística, sempre no barro preto, e passou fazer figurado. De mestre oleiro, passou a mestre artista. A sua inspiração inicial passou a ser o campo e a serra, o seu quotidiano. Cabras, cães pastores, raposas, corvos, brotavam das suas mãos. Com o tempo aperfeiçoou as suas peças, indo beber às memórias de dias de festa, das viagens, de celebrações, imprimindo um grau de complexidade às suas criações.
A qualidade dos seus trabalhos levou-o de feira em feira, exposição em exposição, percorrendo o país. Nas décadas de 1970 e 1980, na grandiosa feira de São Mateus, era presença habitual, trabalhando com toda a dedicação como se estivesse na sua oficina. Com os dedos e alguns utensílios por si fabricados, esculpia as pequenas, mas famosas figuras de barro negro. E entre uma figura e outra ia conversando com clientes habituais e clientes de ocasião. Algumas das obras de arte que fez o Mestre Zé Maria podem ser vistas nesta exposição. A roda da vida deixou de girar antes da aurora do novo milénio, corria o ano 1999.
Joaquim Ribeiro Alvelos
Mestre Joaquim Alvelos, para os mais próximos e conterrâneos Joaquim-Rei, nasceu no ano de 1920, na freguesia (São Pedro de) Paus, concelho de Resende. O seu pai iniciou-o nas lides do barro, aprendendo a arte de fazer talhas cintadas e impermeabilizadas, panelas, caçarolas, tigelas, chaleiras, alguidares, etc.. Continuou durante anos fazendo apenas estas formas, mais ou menos formatadas, de barro negr
Por conta do surgimento de novos materiais, mais leves e duradouros, as vendas de louça começaram gradualmente a diminuir. Neste sentido, o hábil mestre, numa primeira fase, volta-se para a produção de miniaturas das peças que fazia. Contudo, não se sentiu muito confortável no seu fabrico. As dificuldades de modelagem que artigos de pequenas dimensões acarretam, levaram-no a uma nova mudança. Neste sentido, o Mestre Joaquim-Rei começa a fazer pequenas figuras de barro negro, passando de artesão a artista. E, em 1985, apresenta a primeira de incontáveis obras de arte que foi criando.
Joaquim, tal como os seus contemporâneos, foi beber a fonte de inspiração à serra e ao meio que o rodeava. A temática das suas obras percorre cenas tão diversas como: festas; cenas quotidianas; animais; romarias; cristos na cruz; presépios; cavaleiros; músicos; um sem fim de criações. Os seus trabalhos ficaram conhecidos, o que fez com que fosse presença assídua em várias feiras de artesanato. A Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde, a FIL-Artesanato, entre tantas outras, foram espaços onde apresentava os seus trabalhos. E durante anos presença conhecida da Feira de São Mateus, em Viseu, onde se cruzou com o Mestre Zé Maria. “O último oleiro de Fazamões” continuou a trabalhar à roda, fazendo louça, a cuidar da horta, falecendo em 2005.