O Município de Barcelos vai promover um vasto e diversificado programa de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a decorrer ao longo de todo o ano de 2024. Em conferência de imprensa, o Presidente da Câmara referiu que esta iniciativa “visa envolver o maior número de pessoas possível, assinalando a efeméride mais importante da História recente de Portugal”.
Para o efeito, foi constituída uma Comissão Executiva, da qual fazem parte o Presidente da Assembleia Municipal, representantes de todos os partidos com assento na Câmara Municipal e Assembleia Municipal, o representante dos presidentes de Junta, a presidente do Politécnico do Cávado e Ave e também o presidente da Associação Académica.
Mário Constantino adiantou que a Comissão conseguiu delinear um conjunto de orientações das quais resultou “uma programação muito diversificada, mas agregadora, direcionada aos vários grupos e segmentos da população”, cujo objetivo é “perpetuar a Revolução dos Cravos, através da evocação de memórias, as quais hoje já são memória coletiva, mas também, e sobretudo, celebrar, viver, e projetar os princípios e valores da Liberdade e da Democracia”.
O autarca barcelense sublinhou que, enquanto “herdeiros da Revolução dos Cravos, temos a obrigação de zelar e não dar por segura e permanente essa preciosa herança”, pelo que todos devem ser “cidadãos vigilantes e proativos, na defesa dos seus valores e do Estado de Direito Democrático”.
Nesse sentido, acrescentou Mário Constantino Lopes, os portugueses não devem “baixar a guarda, nem nunca julgar que as conquistas de Abril estão perpetuamente adquiridas. É importante e imperioso que cada geração as deve reafirmar sempre e com muita convicção”.
Programação com Tertúlias e Conferências, Concertos Musicais, Exposições, Teatro, Poesia, Cortejos e Concursos
A programação das comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que o Município de Barcelos vai promover ao longo de todo o ano, é muito diversificada e direcionada a todas as faixas etárias.
Síntese do Programa:
• Ciclo de Tertúlias e Conferências – cerca de 12 nas quais serão discutidos os mais diversos assuntos relacionados com a Revolução, mas também com abordagens sociais. Os temas são muito abrangentes e vão desde “O dia D” às “Comissões Administrativas da Câmara Municipal de Barcelos”, ao papel da mulher na democracia, passando pelo Poder Local, a 1.ª Câmara Municipal de Barcelos eleita, a Guerra Colonial, o PREC, a Comunicação Social, “Conversas da juventude de 1974 com a juventude de 2024: Que Futuro?”, e “Liberdade e Democracia: do 25 de Abril às Primeiras Eleições Livres”.
• Ciclo de dez exposições, das quais se destacam “Quem és tu? Um Teatro Nacional a Olhar para o País” – Odisseia Nacional – do Teatro D. Maria II; “ARCHIVUM | 50 anos | 25 de abril”, “25 de abril de 1974″| Fotografia de Alfredo Cunha” e a exposição documental “Silenciados: os livros que não podiam ser lidos”| exposição de livros censurados, com especial destaque para a censura no feminino.
• Conjunto de publicações com apresentação diversas, casos do livro “Barcelos e o 25 de Abril de 1974 – a Administração Local e a Sociedade (1960 – 1989)”, do historiador barcelense, Dr. Victor Pinho; publicação com a identificação de todos os participantes da Assembleia Municipal desde o 25 de Abril, (edição da Assembleia Municipal de Barcelos); Lançamento do livro “Herdeiro do Cravo”, de Francisco Duarte Mangas.
• Concertos musicais com Sérgio Godinho, Fernando Tordo, Luca Argel, Anónimos de Abril, ainda os concertos “Que força é essa – a Força da Música de Barcelos”, Concerto Mil Vozes a Cantar Abril, a “Ópera – Pequena História de um Povo com Memória, e a encerrar as comemorações um Concerto de Música Clássica.
• Dois cortejos mobilizando a comunidade educativa, concretamente o Desfile com as escolas do concelho de Barcelos e o Desfile Recriação Histórica, com os grupos de teatro do concelho de Barcelos.
• Teatro, com a subida a cena de três peças; a componente de poesia com dois eventos específicos; o cinema, com a exibição dos filmes – “Capitães de Abril” e “Salgueiro Maia, o Implicado” e, finalmente, os concursos também dedicados à comunidade estudantil – “Pequenos Grandes Poetas” e “Um documento – Uma História”.
Tertúlia “Dia D” abriu comemorações
A abertura oficial das comemorações dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril aconteceu ontem à noite (sexta-feira) com a realização da tertúlia “O Dia D”.
Perante uma plateia atenta, no auditório dos Paços do Concelho, uma conversa moderada pelo historiador e ex-bibliotecário barcelense, Victor Pinho, o Furriel Manuel Correia da Silva, o Cabo José Alves Costa e o Dr. Mário Vale Lima, contaram de viva-voz as suas experiências e memórias da participação que tiveram nos acontecimentos do Dia da Revolução.
Recorde-se que estes três convidados para a primeira tertúlia têm a particularidade de terem participado ativamente do desenrolar das movimentações militares da madrugada do 25 de Abril.
Furriel Manuel Correia da Silva
O furriel, Manuel Correia da Silva, é natural de Barcelos, e tinha 22 anos quando comandou a chaimite “Bula”, participou em todas as principais movimentações da operação que libertou Portugal do regime ditatorial salazarista.
Correia da Silva tinha feito a recruta no Regimento de Infantaria 5 nas Caldas da Rainha e tirado a especialidade de blindados na Escola Prática de Cavalaria em Santarém. Foi assim que lhe coube, ao comando da chaimite, transportar o presidente do Conselho de Ministros deposto, Marcello Caetano, retirando-o do quartel do Carmo para o posto de comando dos militares revolucionários sediado no quartel da Pontinha. Segundo relatou já, por diversas vezes, o objetivo da sua missão era dar máxima proteção ao governante destituído, o que conseguiria com total êxito.
Recorde-se que, além de Marcello Caetano, seguiram na chaimite “Bula” mais dois governantes: o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, e o Ministro do Interior, Moreira Baptista.
Cabo José Alves Costa
Só quatro décadas depois da Revolução do 25 de Abril se viria a descobrir a identidade do militar que, apesar de ter sido ameaçado com um tiro na cabeça, tomou a decisão de não disparar sobre a coluna de Salgueiro Maia no Terreiro do Paço no 25 de Abril.
Trata-se do cabo José Alves Costa. Este militar estava integrado num dos tanques da coluna que saiu do regimento de cavalaria 7, a caminho do Terreiro do Paço, que ia fazer a defesa de Marcello Caetano, “mas quando lá chegou tudo mudou”. Em declarações à comunicação social, este antigo cabo assegurou que quando saiu do regimento de cavalaria não sabia exatamente o que ia fazer e que apenas teve ordens para sair a caminho do centro de Lisboa. “Sem saber o que se estava a passar no exterior, uma vez que apenas tinha acesso às comunicações militares, José Alves Costa teve ordens para não disparar sem a ordem do seu alferes”. Tendo, entretanto, este sido preso, “um brigadeiro ameaçou José Alves Costa com um tiro na cabeça caso não disparasse, mas optou por não o fazer por respeito ao alferes que conhecia há muito tempo e que respeitava”.
Mário Vale Lima
Trata-se de um médico barcelense que em abril de 74 estava a trabalhar no Hospital Militar em Lisboa e que, mal ecoaram notícias sobre a Revolução, se dirigiu para as imediações do Quartel do Carmo, local onde se começaram a aglomerar milhares de populares.
Para se perceber a importância do testemunho do Dr. Mário Vale Lima, basta sublinhar que o Quartel do Carmo “foi o epicentro da queda da ditadura, o palco principal da Revolução de 25 de Abril de 1974, onde os acontecimentos ocorreram durante catorze horas. Foi aí que o chefe do governo, Marcello Caetano, se rendeu ao general Spínola, tudo isto depois de longas horas cercados pelas forças comandadas pelo Capitão Salgueiro Maia, um dos grandes heróis da Revolução dos Cravos”.