No seu discurso, o presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Miguel Costa Gomes, aludiu à liberdade conquistada em Portugal há 44 anos como “condição de desenvolvimento e de progresso de uma sociedade” para, de seguida, destacar a importância do desenvolvimento regional e local, que “está intimamente ligado, nos seus princípios e objetivos, à questão da descentralização de competências nas autarquias que o Governo pretende instituir”.
Notando que “desde a instituição do regime democrático, os municípios sempre reivindicaram junto do poder central a possibilidade de intervir mais e melhor junto das populações, em razão dos fatores de proximidade e do desenvolvimento mais harmonioso e coerente”, Miguel Costa Gomes afirmou que, “por isso, não podemos deixar de saudar os acordos políticos recentemente alcançados na questão da descentralização, que permitirão, a breve prazo, uma intervenção mais efetiva nas diversas áreas de atuação municipal”.
O presidente da Câmara realçou que “a descentralização é um desafio a favor das populações” e garantiu que “o Município de Barcelos está preparado para cumprir o seu papel”, justificando que “as experiências de descentralização de competências que temos vindo a executar – como a gestão dos jardins de infância e das escolas do 1.º ciclo – provam a nossa capacidade quanto à realização de novas tarefas”. No entanto, alertou que “é preciso assegurar os meios necessários à implementação cabal da descentralização, desde logo os quadros legislativo e financeiro, sob pena da sua descredibilização política”.
Neste capítulo, Miguel Costa Gomes lembrou que o executivo municipal já deu um bom exemplo “através da contratualização com as freguesias de um quadro de competências, cuja execução foi um sucesso pela atribuição de uma verba correspondente a 200% do Fundo de Financiamento das Freguesias”, realçando que “este instrumento de desenvolvimento local, que beneficia e vive da proximidade entre a autarquia e as populações, permitiu, em oito anos, um investimento inédito de 40 milhões de euros em todo o concelho”.
Na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, o presidente da Câmara entregou a Medalha de Honra da Cidade de Barcelos a Júlia Ramalho e a Amadeu Lemos, “dois barcelenses, dois seres humanos de grande dimensão cuja obra, antes de mais, os valoriza a eles próprios e, também, engrandece a comunidade a que pertencem e que tão bem têm representado ao longo das suas vidas”.
Júlia Ramalho, que não pôde estar presente na homenagem por motivos de saúde, tendo sido representada pela filha Teresa Ramalho e familiares, é um dos nomes maiores do artesanato barcelense e, sublinha Miguel Costa Gomes, “está entre os grandes obreiros do título Barcelos Cidade Criativa da UNESCO, dado o papel incontornável que tem tido na preservação dos ensinamentos artísticos dos seus antepassados e na recriação renovada dos seus trabalhos”, dando continuidade ao legado da avó, Rosa Ramalho, “de quem manteve os conceitos a compreensão estética”, tornando-se, assim, “uma referência nacional e internacional do figurado de Barcelos”.
Miguel Costa Gomes lembrou a importância do movimento associativo do concelho como “um fator decisivo de coesão local” e que tem como características “o empenho e dedicação dos seus dirigentes e associados, de que é exemplo maior no nosso concelho, Amadeu Ferreira Lemos”. Autarca, fundador e presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Viatodos, responsável pela instalação da Casa do Povo na freguesia, o homenageado tem um percurso de várias dedicado à causa pública. “De forma abnegada e totalmente empenhada, construiu uma obra ímpar que muito contribuiu para o desenvolvimento da Freguesia e do concelho”, referiu o presidente da Câmara.
Antes da atribuição das medalhas honoríficas, a professora Ariana Cosme fez uma intervenção sobre “As pessoas e desenvolvimento regional no Portugal democrático”. A oradora sublinhou que “as comunidades são tanto mais quanto mais fortes forem as pessoas dos seus lugares” para se referir aos homenageados. “É porque há Júlias Ramalhos e Amadeus Lemos e tantos outros agentes na comunidade”, acrescentou, que Barcelos coloca o seu “nome no mapa”.
O presidente da Assembleia Municipal de Barcelos, Horácio Barra, afirmou no seu discurso que “é inquestionável a significativa melhoria de vida sentida sentida pelos portugueses ao longo destes 44 anos” de democracia, ressalvando que “não devemos ter medo de executar o que ainda não está feito, apesar de prometido naquela Lei Fundamental”.
Horácio Barra referia-se “à descentralização efetiva e à regionalização que ainda está por cumprir, apesar do desiderato Constitucional para a sua concretização. Ter medo da sua execução, com falaciosos argumentos, só faz reviver os tempos do passado, em que a centralização foi, era e será sempre um fator de desigualdade”.
A sessão solene contou ainda com as intervenções dos representantes de todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal.
As comemorações do 25 de Abril terminaram com um concerto do Conservatório de Música de Barcelos, na Avenida da Liberdade.